segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A farsa da internet

Central de conspiração virual
Sinceramente: não sei se sirvo para ter um blog. Sempre fui muito reticente em relação às chamadas 'redes sociais', desde quando elas começaram a aparecer.

Não me recordo exatamente quantos anos eu tinha quando da primeira vez que acessei um bate-papo, mas acho que tinha pouco mais ou pouco menos que 10 anos. Estava com meu tio Cacá, empolgado, ele, com o novo e revolucionário advento que estava a surgir. Sentamos, nós dois, na frente do computador e "entrei" na sala de bate papo.

Daí eu tentava puxar assunto com as pessoas:
 -oi? -oi! -de onde você fala?  -de belo horizonte. e você? -de vitória, espírito santo. -legal! -quantos anos você tem? -18 e voce? -tenho 10
...
e a conversa cessava aí, imediatamente.

E eu fiquei meio chateado com essa minha dificuldade em continuar a conversa, porque ela sempre terminava quando a idade entrava em pauta. E eu não entendia por quê. Daí que meu tio (deve ter sentido peninha de mim) foi me explicar que possivelmente eles não deveriam estar muito interessados em conversar com um garotinho de 10 anos.

Mas para além dessa frustração, uma outra coisa que me chamou a atenção naquele episódio e que até hoje me recordo: não acreditava muto que tinham pessoas 'de verdade' do outro lado. Imaginava uma central de computadores, como um SAC (embora na época não sabia o que significava SAC), onde funcionários acessavam no intuito de enganar os que ali estavam. O engraçado é que eu não imaginava alguns funcionários e algumas pessoas 'de verdade', como eu: pra mim eram todos funcionários... naquele universo virtual, naquela sala de bate-papo, eu me sentia o único enganado. Os outros que ali estavam eram todos atores! Ou seja: a corporação dissimulada no fundo era um complexo de conspiração a la 'Show de Truman', onde o único que não atua é o próprio eu. Imaginar todos aqueles que ali estavam como funcionários, ao invés de apenas alguns daqules que ali estavam, deve ter sido uma manobra da minha mente pra me preservar de uma crise de identidade que, possivelmente, tenha a ver com a frustração de eu não ter sido aceito naquele espaço por ter apenas 10 anos. Mas não apenas isso: acredito verdadeiramente que também tenha a ver com a dificuldade que tive de assimilar aquilo!

Sabe aqueles clichês que aparecem quando se tenta falar sobre a internet, como: "a internet une as pessoas" ou "daqui do brasil, eu posso falar ao mesmo tempo com uma pessoa lá no Japão!". Pois é. Fruto do intento dos comentaristas de plantão de se opinar sobre algo novo, com grande potencial, esses comentários hoje nos parecem tão verdadeiros como óbvios, soando, portanto, aos nossos ouvidos como clichês, dando a sensação de que se trata de uma verdade besta, óbvia demais pra ser tão repetidamente dita: incomodando, até.

Mas... a "obviedade" atual destes comentários se deve ao simples fato de que a internet não é mais novidade, mesmo tendo se passado tão pouco tempo. Naquela época (parece que estou falando de décadas pra trás!) estes comentários deveriam ser lidos e ouvidos com regozijo por aqueles que experimentavam esta "nova" ferramenta, ou com curiosidade por aqueles que ainda não haviam tido a oportunidade de navegar. E um exemplo disso é a minha própria experiência relatada. Fui incapaz de compreender aquilo que acontecia na minha frente, na tela do computador, porque aquele 'ambiente' era um universo do qual eu não detinha informação ou experiência alguma. E por se incapaz de compreender aquilo, eu era incapaz de manipular também. Manipular ao meu favor, para obter coisas boas, para ser aceito, para ser amado...

De que adiantava ser aceito por um funcionário de uma central de computadores, cujo o único objetivo era me ludibriar? Talvez essa seja a síntese da minha experiência naquele dia. Quer dizer: essa foi a síntese que eu criei para me preservar de um mundo estranho, indecifrável e incompreensível que não me aceitava porque eu tinha 10 anos.

E cá estou eu, na minha segunda postagem, em um blog... movido por não-sei-o-que que me impulsiona a escrever um texto destinado a talvez ninguém! Isso sem falar que eu não escrevi neste blog por uns três dias (o que eu imagino que deva ser um pecado pra um blogueiro que se preze), exatamente porque eu não fazia idéia de sobre o que escrever. Aliás, não fazia idéia do que escrever quando sentei na frente deste computador, numa lan house em Belém, na qual vim especialmente pra escrever no blog!


O interessante é que nós, mesmo adultos, nos movemos por sentimentos infantis! O 'infantil', na verdade, nada mais é que o 'humano' em sua essência mais pura. E o universo virtual radicaliza essa humanidade-infantil, que todos nós possuímos, problematizando-a ou não. Afinal a  reflexividade, por mais que seja bem fundamentada, não é capaz de nos desprover dessa necessidade primária do/de ser(-)humano: ser amado.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Post I: por que bananaprosanto?


Quem manda no mato é Oxóssi, Oxóssi é caçador, Oxóssi é caçador

Bem...
bananaprosanto não tem absolutamente nada a ver com insubordinação religiosa. Trata-se apenas de uma apropriação de um trecho da música "João Sabino", de Gilberto Gil. Na música, Gil homenageia o músico João Sabino, capixaba de Cachoeiro do Itapemirim. Não obstante diverte-se, através dos seus versos, com o santo nome do nosso estado, dando um ar divino e musical para as serras de uma localidade de LÁ... de onde nasce o SOL.

Esta música me foi apresentada por meu pai, em um momento muito interessante da minha vida: quando estava prestes a sair de Vitória, partindo para uma experiência de 1 ano em Belém (9 meses, mais especificamente). E é aqui, em Belém do Pará, que hoje me encontro, cidade que me acolheu da maneira maravilhosa que é própria de seu povo (não dá pra explicar: tem que conhecer.).  

Uma das poucas coisas que trouxe de Vitória foi um notebook, emprestado da minha tia Fatinha. Seu teclado completamente desconfigurado me dificultava de escrever no Word, por exemplo. Não obstante, em nenhum momento me prestei a buscar ter acesso à internet, correr atrás de modem etc. Qual a utilidade de um computador sem internet e que mal dá pra escrever, em plenos anos 10, em pleno século XXI?

Resposta perspicaz: ouvir música!

Pois é... Antes de vir, gravei todas as músicas do meu computador. Destaque para dois cd's gravados por meu pai, com sambas, bossas novas e Musicas Populares Brasileiras em geral.

Entre tantos momentos bons aqui em Belém, sempre me recordarei dos momentos em que ouvia música, em meu quarto, deitado apenas.

Pois...
"João Sabino" era uma das músicas. E ela tinha um sabor especial: ela me transportava para dentro de mim mesmo e, ao mesmo tempo, para aquela terra: a minha terra.
Essa terra tão difícil de entender e de explicar. E também para aquela gente.
Mas, transportado através dos versos simples da música, que pouco diz verdadeiramente sobre o Espírito Santo em si, não havia a preocupação em analisar, problematizar ou achar respostas para entender essa terra, seu povo, sua cultura...
Bastava achar graça do fato de ser filho do Espírito Santo...
de tentar se colocar do outro lado e até achar engraçado o nome do nosso estado...
de lembrar do quão belas são as  nossas serras...
de se colocar em comunhão com o tal João Sabino: capixaba, como Roberto Carlos, Nara Leão, Stênio Garcia, Eliza Lucinda e como muitos outros, muitos dos quais estão longe de sua terra-mátria, por algum motivo que só eles sabem.
Como eu, na minha humilde existência.
Longe, mas, de uma maneira ou outra, sempre capixabas.
Não importa tanto se existe orgulho em ser o que se é. Apenas se é!
O que quer que isso queira dizer.

bananaprosanto é um blog experimental, de autoria de um capixaba, sim, mas que não tem compromisso algum com bairrismos de qualquer espécie. As informações que serão postadas aqui não serão limitadas a um tema específico... o que não quer dizer que escreverei sobre tanta coisa! Escreverei, sim, sobre qualquer coisa!

Segue abaixo a letra da música que inspirou o nome deste blog!
Prometo postar a música em outro momento...

Gilberto Gil - João Sabino

Eu tava comendo banana pro santo
Pra quem?
Pro santo
Pra quem?
Pro santo
Pra quem?
Pro santo espírito senhor
Pai do filho do Espírito Santo
Senhor pai de quem?
Pai do filho do Espírito Santo
Senhor pai de quem?
Pai do filho do Espírito Santo
Filho do Espírito Santo
Filho de uma localidade de lá
Nessa localidade de lá
Uma abertura de si
Uma embocadura pra dó
Sustenindo uma passagem pra ré
Mi bemol
Já traz o som, o eco
A claridade
Ainda um pouco abaixo do horizonte
Atrás do monte
De mi pra fá
Sustenindo, suspendendo
Sustentando, ajudando o sol
Nascer

Aqui na terra
Atrás da serra
Cachoeiro do Itapemirim
O sol nascer
João Sabino, eu imagino
Quando era menino, via assim

Quem manda no Mato é Oxóssi
Oxóssi é caçador, Oxóssi é caçador